19 de abr. de 2005
Solidão
A necessidade de platéia é algo que muitas vezes pode
levar o ser humano a ter atitudes extremas.
E ela sabia disso.Tanto que vez ou outra ela parava na
esquina da Líbero Badaró com o Viaduto do Chá e ficava
olhando para o alto do edifício que tem ali. Não demorava
muito e já haviauma multidão ao seu redor para ver o que estava
acontecendo.
E ela gritava:
"- Não, não pule!"
E acenava com a mão num gesto negativo.
Quando lhe perguntavam:
"- Nossa, mas cadê a pessoa com quem você está falando?"
Ela respondia:
"- Ali, num tá vendo? No 35º andar"
Ela na verdade nem sabia quantos andares tem o prédio, mas
sempre tinha alguém que acreditava e depois engrossava o coro:
"- Não, não pule!"
Quando já havia um número suficiente de pessoas ela saía dizendo:
"-Gente louca, fica tentando se suicidar. Eu desisto de tentar ajudar."
Passado algum tempo as pessoas não mais acreditavam nela,
e a brincadeira foi perdendo a graça para sua autora,até o dia
que ninguém mais parou porque o funcionário da banca alertou
que não passava de uma maluquice daquela mulher.
A diversão dela havia acabado, não tinha mais público que
acreditasse nela; e não era só ali, em todo o Centro de São
Paulo as pessoas a conheciam.Virou uma celebridade.
Certo dia tentou brincar com as pessoas em lugares diferentes
do Centro e ninguém lhe deu atenção, até que na última tentativa
de chamar seu público ela resolveu transpassar o pára-peito do
Viaduto do Chá para que as pessoas parassem e tentassem
impedi-la.
Ninguém parou.
Conto escrito em 22/02/2005
A partir de agora postarei aqui no Only alguns contos que
estava escrevendo no Blog da Taty Marx, onde tbm escrevo
regularmente.
Como estou num intervalo criativo resolvi postar estes
contos porque tenho gostado muito deles e aqui todos
podem comentar.
Espero que gostem.
Choro
Aqui, venha para a chuva...
Sinta o calor de cada gota
Deixe-a levar sua tristeza
Sinta as gotas abraçarem tua pele
Perceba o significado disto
Aproveite as lágrimas dos anjos
Purifique-se com esta dádiva
Usufrua deste elixir
Aqui, venha para a chuva...
Deixe-se molhar pelas águas celestiais
Tente sentir o abraço divino
Purifique-se, deixe-a levar suas aflições...
Receba a pureza destas lágrimas
Sinta-a escorrer por sua face
Escorrer por todo seu corpo
Quedas d’água por seus contornos
Aqui, venha para a chuva...
Venha se molhar, não tema!
Alivie sua’lma sem medo
Deixe as águas a acalmarem
Que chova a noite toda
Molhemo-nos para disfarçar nossas lágrimas
Vamos rir por não ter o que fazer
Deixe-se molhar, deixe-me te ter.
Cristiano Rolemberg Carozzi Aguiar
11/03/2004
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