28 de abr. de 2005
Sem destino.
Saiu cedo de casa sem rumo certo.
Pegou as chaves, trancou a porta e seguiu até o carro.Entrou
nele, sentou no banco do motorista e num gesto desolado
apoiou os braços sobre o volante e a cabeça sobre eles. Ficou
ali aproximadamente trinta segundos,depois ergueu a cabeça
e deu o contato.
Ligou o rádioe colocou um de seus Cds prediletos. Não que
gostasse de sofrer, mas ele inteiro lembrava sua amada. Saiu
finalmente sem direção certa, não sabia se seguia a esquerda,
a direita... ou reto. Pegou a Marginal Pinheiros...
Iris, se desmanchou em lágrimas elembranças, sentiu-se
confuso por não saber que direção tomar também em sua vida.
Pegou uma estrada qualquer sem ler o que a placa
indicava. Bandeirantes, pistas largas, bom asfalto 120, 130, 140,
150... 180Km/h. Como tudo em sua vida ele resolveu acelerar o
carro sem medo do que pudesse acontecer, só prestando
atenção nos outros carros, na sinalização; não queria saber dos
limites, só lhe interessava ir para algum lugar. Mesmo sem saber
ao certo para onde.
Passou um, dois, três pedágios... alguns policiais tentaram
censurá-lo sem sucesso.
Curva perigosa!
Ele percebeu que perdeu o controle de sua vida.
24/02/2005
Crescer
Um dia me disseram que nós crescemos
Abandonamos a inocência e a pureza
A fantasia trocamos pela realidade
E a brincadeira pela responsabilidade
Um dia me disseram que temos que ser grandes
Conquistar e ostentar bens
Só assim seremos grandes
Só assim seremos importantes para o mundo
Um dia me disseram que é feio mentir
Mas quem disse isso também mente
Omitiu coisas que me fariam crescer
Mentiu até para me proteger
Um dia me disseram que aprenderia a amar
Mas descobri que amar não se aprende
Que o amor que aprende com você
Que amar se aprende por viver
Omitiram-me que amar pode doer
Que a saudade pode sufocar
Que a distância faz sofrer
Que podemos chorar por não nos ver
Quem inventou a saudade?
Não me disseram que ela existia
Me disseram que você partiria
E não disseram que mesmo assim contigo eu estaria.
Cristiano Rolemberg Carozzi Aguiar
12/03/2004
19 de abr. de 2005
Solidão
A necessidade de platéia é algo que muitas vezes pode
levar o ser humano a ter atitudes extremas.
E ela sabia disso.Tanto que vez ou outra ela parava na
esquina da Líbero Badaró com o Viaduto do Chá e ficava
olhando para o alto do edifício que tem ali. Não demorava
muito e já haviauma multidão ao seu redor para ver o que estava
acontecendo.
E ela gritava:
"- Não, não pule!"
E acenava com a mão num gesto negativo.
Quando lhe perguntavam:
"- Nossa, mas cadê a pessoa com quem você está falando?"
Ela respondia:
"- Ali, num tá vendo? No 35º andar"
Ela na verdade nem sabia quantos andares tem o prédio, mas
sempre tinha alguém que acreditava e depois engrossava o coro:
"- Não, não pule!"
Quando já havia um número suficiente de pessoas ela saía dizendo:
"-Gente louca, fica tentando se suicidar. Eu desisto de tentar ajudar."
Passado algum tempo as pessoas não mais acreditavam nela,
e a brincadeira foi perdendo a graça para sua autora,até o dia
que ninguém mais parou porque o funcionário da banca alertou
que não passava de uma maluquice daquela mulher.
A diversão dela havia acabado, não tinha mais público que
acreditasse nela; e não era só ali, em todo o Centro de São
Paulo as pessoas a conheciam.Virou uma celebridade.
Certo dia tentou brincar com as pessoas em lugares diferentes
do Centro e ninguém lhe deu atenção, até que na última tentativa
de chamar seu público ela resolveu transpassar o pára-peito do
Viaduto do Chá para que as pessoas parassem e tentassem
impedi-la.
Ninguém parou.
Conto escrito em 22/02/2005
A partir de agora postarei aqui no Only alguns contos que
estava escrevendo no Blog da Taty Marx, onde tbm escrevo
regularmente.
Como estou num intervalo criativo resolvi postar estes
contos porque tenho gostado muito deles e aqui todos
podem comentar.
Espero que gostem.
Choro
Aqui, venha para a chuva...
Sinta o calor de cada gota
Deixe-a levar sua tristeza
Sinta as gotas abraçarem tua pele
Perceba o significado disto
Aproveite as lágrimas dos anjos
Purifique-se com esta dádiva
Usufrua deste elixir
Aqui, venha para a chuva...
Deixe-se molhar pelas águas celestiais
Tente sentir o abraço divino
Purifique-se, deixe-a levar suas aflições...
Receba a pureza destas lágrimas
Sinta-a escorrer por sua face
Escorrer por todo seu corpo
Quedas d’água por seus contornos
Aqui, venha para a chuva...
Venha se molhar, não tema!
Alivie sua’lma sem medo
Deixe as águas a acalmarem
Que chova a noite toda
Molhemo-nos para disfarçar nossas lágrimas
Vamos rir por não ter o que fazer
Deixe-se molhar, deixe-me te ter.
Cristiano Rolemberg Carozzi Aguiar
11/03/2004
14 de abr. de 2005
Morte de mais uma série
Morreu, mais uma vez mato uma série pelo mesmo
motivo das outras... baixa audiência.
Tirando que muitas pessoas (pretensão, só as que leram)
também criticaram muito os temas que utilizei para escrever
a série.
Sei, foi meio pesado e assustador se tratando de mim. Digo
isso porque quem me conhece sabe que sou extremamente
careta e contra as drogas.
A verdade é que escrevi a série pensando no filme "Requiém
para um sonho"; filme este que me deixou muito impressionado
e inspirado a falar sobre os vícios que tanto me incomodam.
A verdade é que depois do filme vi que todos somos viciados
em coisas diferentes, sejam elas lícitas ou ilícitas.
Bom... morreu.
Dias chuvosos
Chove em minha mente
Gotas de pensamentos absurdos
Dilúvio de idéias férteis
Incessante fertilização de planos
Que chova o concreto ou o imaginário
Que fique em pensamento
Que vire realidade
Mas não pare de chover
Que inunde meu cérebro
Que afogue meu raciocínio
Que leve a lógica com a correnteza
Mas não pare de chover
Molhe todos os cantos de minha cabeça
Temporal avassalador que preocupa
Preocupa por suas conseqüências
Deixará rastros?
Alaga-me a todo o momento
E quando não houver mais como escoar
Quando chover pensamentos de emoções
Quando a chuva esquentar o sentimento
Pensarei em como drenar este tormento
E sem solução meu corpo responde por mim
Meus olhos quase se fecham como aviso
Com lágrimas alivio meu pensamento.
Cristiano Rolemberg Carozzi Aguiar
19/02/2004
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